Nota do editor: Esse artigo foi escrito após um tiroteio em uma histórica igreja da comunidade negra em Charleston, EUA em 2015.
* * * * *
Como é que alguém não poderia se comover pelos eventos de Charleston na semana passada? Na verdade, “comover” não é um verbo suficiente. Precisamos de palavras como desolados, consternados, entristecidos, vilipendiados e repugnados. Nove irmãos e irmãs assassinados, mesmo após terem sido tão gentis com o assassino, que ele quase não foi em frente com sua trama perversa. Como é que isto pode acontecer? Nos Estados Unidos? Em 2015? Em uma igreja? E inspirado pelo tipo de crenças racistas que gostaríamos de crer que não existem mais?
Mas elas ainda existem, mesmo que (felizmente) não tanto quanto no passado.
Charleston é uma bela cidade e belos episódios do evangelho têm sido transmitidos daquela cidade nestes últimos dias. Mas, obviamente, nem tudo é belo na Carolina do Sul, assim como nem tudo é belo em Michigan, e nem tudo é belo no coração humano.
Toda minha vida, cresci ouvindo que o racismo é errado, que “o preconceito, a discriminação, ou antagonismo direcionado contra alguém de uma raça diferente, baseado na crença de que a própria raça é superior” (utilizando uma das primeiras definições que surgiram em meu celular), é pecaminoso. Ouvi isto de meus pais, de minha escola pública, de minha igreja, de minha faculdade, e de meu seminário. A ampla maioria dos americanos sabe que o racismo é errado. É uma das poucas coisas com que quase todos concordam. No entanto, eu me pergunto se nós (eu mesmo?) temos investido tempo suficiente considerando por que é errado. Podemos facilmente expressar nossas opiniões tipo “eu odeio racismo” (em alto e bom som), mas talvez estejamos apenas à procura de superioridade moral, ou de receber tapinhas nas costas, ou adquirir amigos e influenciar pessoas, ou para provar que não somos como “aquelas pessoas”, ou talvez estejamos apenas repetindo o que sempre ouvimos outros dizerem. Como cristãos, devemos refletir e vivenciar profundamente não apenas o que a Bíblia diz, mas também o porquê.
Se o racismo é tão ruim, por que é tão ruim?
Abaixo relaciono dez razões bíblicas pelas quais o racismo é pecado e ofende a Deus.
1. Somos todos criados à imagem de Deus (Gênesis 1:27).
A maioria dos cristãos sabe disto e crê nisto, mas as implicações são mais formidáveis do que se imagina. O gráfico acima não é apenas sórdido, é desumanizante. [Texto da imagem: Proibido irlandeses. Proibido negros. Proibido cachorros.] Tentava roubar os irlandeses e negros de seu status exaltado como portadores da imagem divina. Tentava fazê-los indiferenciados de animais. Mas é óbvio que, como um homem branco, não sou mais parecido com Deus em meu ser, não tenho maior capacidade de adoração, não fui feito com propósito divino maior, não possuo maior valor nem sou mais merecedor de dignidade, do que qualquer outra pessoa, qualquer que seja o seu gênero, sua cor ou sua etnia. Temos mais semelhanças do que diferenças.
2. Somos todos pecadores corrompidos pela queda (Romanos 3:10-20; 5:12-21).
Todos os que foram criados à imagem de Deus têm também esta imagem maculada e danificada pelo pecado original. Nossa antropologia é tão idêntica quanto nossa ontologia. A mesma imagem, o mesmo problema. Temos mais semelhanças do que diferenças.
3. Somos um em Cristo, se somos crentes em Jesus (Gálatas 3:28).
Pelo restante do Novo Testamento, vemos que a justificação pela fé não erradica nosso gênero, nossa vocação, ou a nossa etnia, mas que ela relativiza todas estas coisas. Nossa primeira e mais importante identificação não vem de sermos homem ou mulher, americano ou russo, preto ou branco, pessoa que fala espanhol ou pessoa que fala francês, rico ou pobre, influente ou desconhecido, mas vem de sermos cristãos. Temos mais semelhanças do que diferenças.
4. A separação dos povos veio como uma maldição em Babel (Gênesis 11:7-9).
A aproximação dos povos foi um dom do dia de Pentecostes (Atos 2: 5-11). A realidade de Pentecostes pode não ser possível em todas as comunidades, afinal, Jerusalém tinha todas aquelas pessoas lá por causa de um dia santo, mas se nossa inclinação é movermo-nos em direção da punição de Gênesis 11, ao invés da bênção de Atos 2, algo está errado.
5. A parcialidade é pecado (Tiago 2: 1).
Quando tratamos pessoas injustamente, quando pressupomos o pior sobre pessoas ou povos, quando favorecemos um grupo sobre outro, não refletimos o Deus de justiça nem honramos a Cristo, que veio para salvar todos as pessoas.
6. O amor verdadeiro ama como espera ser amado (Mateus 22:39-40).
Ninguém pode dizer honestamente que o racismo trata o nosso próximo como gostaríamos de ser tratados.
7. Todo o que odeia a seu irmão é homicida (1 João 3:15).
Lamentavelmente, podemos odiar sem perceber que odiamos. O ódio nem sempre se manifesta como uma fúria implacável, e nem sempre – ou por causa da misericórdia moderadora de Deus – se traduz com frequência em assassinato físico. Mas o ódio é um homicídio no coração, porque o ódio olha para alguém ou algum outro grupo e pensa: “Gostaria que você não existisse. Você é o que há de errado com este mundo e o mundo seria melhor sem pessoas como você. ” Isto é o ódio, o que soa imensamente como homicídio.
8. O amor se alegra com o que é verdadeiro e procura o que é melhor (1 Coríntios 13:4-7).
Não se pode crer em tudo e esperar em tudo quando se pressupõe o pior sobre as pessoas e se vive a vida municiada por preconceitos, convicções desorientadas, e animosidade pura e simples.
9. Cristo veio para derrubar paredes de separação entre povos e não erguê-las (Efésios 2:14).
Esta não é uma promessa lacrimosa sobre todos deixarem de lado as doutrinas e nos darmos bem uns com os outros por amor de Jesus. Efésios 2 e 3 são sobre algo muito mais profundo, muito mais glorioso, e muito mais cruciforme. Se nós, que fomos criados à mesma imagem, que somos nascidos no mundo com o mesmo problema, que encontramos a mesma redenção através da mesma fé no mesmo Senhor, como poderemos não nos aproximar uns aos outros como membros de uma mesma família?
10. O céu não tem lugar para o racismo (Apocalipse 5: 9-10; 7: 9-12; 22: 1-5).
Ai de nós se nossa visão de uma vida correta aqui na terra for completamente desfeita pela realidade dos novos céus e da nova terra ainda por vir. O antagonismo em relação às pessoas de outra cor, língua ou etnia é antagonismo em relação ao próprio Deus e seu projeto para a eternidade. Os cristãos devem rejeitar o racismo, fazer o que puderem para expô-lo e confrontá-lo com o evangelho, não porque amamos tapinhas nas costas por nossa indignação moral ou estamos desesperados para restaurar nossa autoridade moral, mas porque amamos a Deus e nos submetemos à autoridade de sua palavra.
fonte https://coalizaopeloevangelho.org/article/10-razoes-pelas-quais-o-racismo-e-ofensivo-a-deus/