Traore* é uma das vítimas da violência contra os seguidores de Jesus em Burkina Faso. O pai dele foi morto em um dos ataques de extremistas. No entanto, o que os radicais não esperavam era que o resultado do ataque não seria rancor ou ódio, mas sim o nascimento de um futuro pastor.
O jovem sonha em se tornar um missionário para continuar o exemplo que o pai deixou. “Não quero me tornar um médico ou entrar para o exército. É verdade que estudar é bom, pode prover um trabalho e dinheiro, mas a minha visão não vai nessa direção. Não, o que eu estou interessado é em me tornar um missionário. Quero fazer isso por causa da nossa situação atual [crise de insegurança em Burkina Faso]”, diz Traore.
Tempos de paz
Antes de 2016, grande parte de Burkina Faso não era um local violento. Traore descreve como era aquele período: “Quando acordávamos pela manhã, tínhamos nosso tempo de devocional e orações. Eu ia para a escola e voltava ao meio-dia. Lembro que quando estava a caminho da escola, todo mundo estava a caminho do trabalho”. Era um lugar seguro para viver e trabalhar.
Nessa época, em dias em que não tinha aula, o jovem passava tempo com o pai e criou memórias repletas de afeto. “Às vezes, quando não tinha aula, eu ia pescar com meu pai. Quando voltávamos com o que pescamos, minhas irmãs iam vender os peixes. Nas noites de sábado, jogávamos futebol, saíamos para andar pela mata ou ver as pessoas jogando futebol”, lembra o jovem cristão.
Mas, em 2019, a insegurança cresceu a ponto de Traore e a família precisarem sair de seu vilarejo natal, mas eles não conseguiram se sustentar na cidade, por isso, voltaram para casa. Lá, Traore e o pai saíram juntos para colher plantas e ervas em um dia comum e sequer imaginavam o que aconteceria.
O dia do ataque
Antes de saírem, pai e filho se despediram da família, oraram e então caminharam quase 15 km recolhendo a grama quando ouviram os radicais chegarem em motocicletas. O jovem cristão conta que “os homens estavam vestidos de uniforme do exército. Então, em um primeiro momento, pensamos que eram militares. Então vimos que eles seguravam bandeiras do Estado Islâmico”.
O jovem e o pai continuaram orando enquanto os radicais desciam das motocicletas e os cumprimentavam. “Meu pai respondeu ao cumprimento, e então eles perguntaram onde estava o resto das pessoas. Meu pai não respondeu”, disse Traore. Enquanto eles conversavam, o jovem entrou em pânico e fugiu sem ser notado.
“De repente, ouvi um tiro, e comecei a correr”, recorda Traore. O rapaz sabia instintivamente que seu pai tinha sido morto. Ele se escondeu atrás de algumas casas e quando ouviu o barulho das motocicletas diminuir, começou a correr para casa. “Quando estava correndo, perdi meus sapatos e fui para casa descalço. Eu não estava com medo ao correr para casa, mas a ideia de ter me tornado órfão continua se repetindo na minha cabeça”, acrescenta Traore.
Nasce um pastor
A morte do pai de Traore foi tão repentina que todos ficaram em choque. A família ficou devastada. Nos dias e anos após o assassinato, Traore teve que crescer rapidamente. Em tudo isso, Deus amadureceu sua fé e o exemplo que o pai estabeleceu permanece como um raio de luz nesse tempo incerto.
Ainda há momentos dolorosos, em que o adolescente está muito consciente de que o pai se foi. “Às vezes, quando estou com meus amigos e estamos conversando, eles começam a falar sobre o pai deles e eu não posso dizer nada porque eu não tenho mais um pai”, diz o jovem.
É precisamente por isso que esses grupos visam homens, cristãos ou não. Ao eliminar maridos e pais, a família inteira fica vulnerável. E de fato, Falmata*, mãe de Traore, contou a parceiros locais que não consegue alimentar e sustentar os filhos sozinha. Durante a visita, a Portas Abertas proveu a Traore e sua família alimentos básicos e outras necessidades para durarem alguns meses.
Traore já é um pastor no coração. No fim da última visita dos parceiros das Portas Abertas, ele disse: “Nós confiamos em Deus. Ele disse que não deveríamos nos preocupar com a nossa vida. Com o que comer, beber ou vestir, ele disse que não deveríamos nos preocupar. Isso fortalece minha fé e me mantém prosseguindo. Quando enfrentamos dificuldades, devemos olhar apenas para Jesus”.
*Nomes alterados por segurança.
fonte https://portasabertas.org.br/noticias/cristaos-perseguidos/jovem-atacado-quer-ser-pastor-em-burkina-faso