6 Maneiras em que a Tecnologia Digital Nos Deforma

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“Coma do fruto, e você se tornará como Deus”, a Serpente sussurrou para Eva. No entanto, Eva já era semelhante a Deus—os seres humanos refletem e demonstram de maneira única a imagem de Deus. Apesar de Adão e Eva terem sido criados à imagem de Deus, isso não foi o suficiente para eles. Foram tomados por um anseio de ultrapassar os limites de sua semelhança com Deus, o que os levou a morder o fruto que a Serpente garantiu os faria ainda mais semelhantes a Deus.

A Serpente estava ao mesmo tempo falando a verdade e mentindo. O fruto permitiu que Adão e Eva tivessem acesso a um conhecimento que antes só Deus detinha. No entanto, ao comerem o fruto seguindo seus próprios desejos, a imagem deles foi distorcida, tornando-os menos parecidos com Deus do que eram antes.

A revolução digital desta era da informação se assemelha às promessas enganosas da Serpente no paraíso. O Google nos dá a capacidade de acessar, com apenas alguns cliques, quase todo o conhecimento que a humanidade possui. A Alexa nos permite acender as luzes de casa com uma simples palavra. As redes sociais nos dão a oportunidade de estar presentes para todos, em todos os momentos. E agora, com a disseminação do ChatGPT e outras Aplicações de IA, os níveis máximos de produtividade humana nunca foram tão elevados. Poderíamos até dizer que a tecnologia nos transforma em deuses.

Embora muitas vezes utilizadas para propósitos que glorificam a Deus, poderiam essas capacidades ampliadas ser comparadas à tentação da Serpente no Éden? Será que essas tecnologias diminuem a distância entre as habilidades de Deus e as nossas, ao mesmo tempo que aumentam a distância entre o caráter de Deus e o nosso? À medida em que a tecnologia nos faz mais parecidos com Deus, Sua imagem em nós se torna menos nítida. Deus anseia que sejamos semelhantes a ele, mas aspiramos a competir com Deus.

O Poder Deformador da Tecnologia
Não apenas interagimos com o mundo através da tecnologia—ela também age em nós. A tecnologia jamais é neutra.

Quando Adão e Eva comeram o fruto proibido na tentativa de se assemelhar a Deus, acabaram se distanciando de Sua imagem. Da mesma forma, a tecnologia tem a capacidade de alterar a imagem de Deus em nossa personalidade. Através da perspectiva de Gálatas 5.22–23, vamos refletir sobre seis maneiras como a tecnologia digital pode estar nos deformando.

1. Amor e Benignidade Deformados: Polarização, Ira e Indignação
Por sua propensão para com o homem pecador e por suas ações, Deus revela Seu amor e benignidade (Tito 3.4-5), o que demonstra carinho e compaixão pelo “outro”. No entanto, as mídias digitais e os algoritmos das redes sociais não favorecem conteúdos gentis nem geram amor em nossos corações.

Em uma investigação do Senado norte-americano em 2021 sobre algoritmos de mídia social, o antigo responsável pelo design ético do Google afirmou que “o objetivo do modelo de negócios da empresa é formar uma sociedade viciada, indignada, polarizada, performática e desinformada”. O Facebook foi descrito como “uma das empresas mais polarizadoras do mundo”, cuja plataforma é “projetada para manter as pessoas navegando em seus feeds do Facebook, potencializando conteúdos desagregadores e inflamatórios e exacerbando as divisões políticas na sociedade”.

Isso tem contribuído para a polarização nos Estados Unidos, caracterizada por desconfiança e enfraquecimento de normas democráticas. Incitam revolta moral em nós e nos tornamos mais grosseiros e irritados. A mídia digital proporciona um ambiente onde a provocação (trollagem), teorias da conspiração e antagonismo podem prosperar.

Os sites que utilizamos e a mídia que consumimos diariamente podem distorcer nossa benignidade e amor, produzindo como fruto, polarização, ira e indignação.

2. Alegria e Paz Deformadas: Depressão e Ansiedade
Vários estudos relacionaram a alta utilização de tecnologia digital a sintomas de depressão e ansiedade. Estatísticas mostram que o uso excessivo de tecnologia está fortemente ligado à infelicidade, à depressão e ao suicídio, bem como à insônia, estresse e baixa autoestima .

Um estudo identificou que o uso excessivo da internet, associado à exposição a desinformação durante a pandemia de COVID-19, estava significativamente relacionado à depressão. É bem documentado na literatura que há uma correlação entre uso de mídias sociais e ansiedade, contribuindo para o temor de ficar de fora.

A tecnologia digital tem suas vantagens, mas seu uso exagerado, sem o devido controle, pode roubar nossa alegria e nos tornar pessoas ansiosas e vazias.

3. Paciência Deformada: Impaciência e Compulsão
​​Todos nos lembramos o quão impacientes ficávamos na época em que os modems carregavam lentamente a Internet, no princípio da década de 2000. Seria de esperar que com computadores mais rápidos, a ansiedade não teria mais oportunidade de se manifestar. Entretanto, o que ocorre é o oposto. Expressamos este aumento de ansiedade ao usarmos smartphones para ” satisfazer [nossas] necessidades o mais rápido possível”, o que pode gerar irritabilidade e gastos desnecessários.

A causa fundamental de nossa impaciência pode estar ligada a mudanças neurológicas mais profundas, fomentadas por um consumo maior de mídias digitais. Entre 2000 e 2013, a Microsoft descobriu que o tempo de atenção humana caiu de 12 segundos para 8 segundos (para referência, o tempo de atenção de um peixe-dourado de aquário é de 9 segundos). Mark Ellingsen escreve que “a divisão de atenção que a internet exige sobrecarrega nossas habilidades cognitivas e reduz a capacidade de aprendizado e compreensão”.

Deus é paciente, longânimo e comprometido com o longo prazo. No entanto, a gratificação imediata e a distração promovidas pelas redes sociais interferem com a percepção das características divinas que há em nós ao nível neurológico.

4. Mansidão Deformada: Violência
Se a gentileza de Deus em relação aos portadores da Sua imagem é caracterizada por interagir conosco de uma maneira que não nos prejudique, então o oposto disso no comportamento humano seria a tentativa intencional de causar dano a alguém. A violência emocional, como o cyberbullying, é uma forma que se manifesta entre os usuários de redes sociais. O aumento do uso da internet está associado ao aumento da desconexão moral (veja o próximo ponto) e uma maior chance de participação em cyberbullying.

Essa hostilidade na internet pode se transformar em violência no mundo real. Uma pesquisa do Public Religion Research Institute revelou que 15% dos norte-americanos (ou 50 milhões de pessoas) acreditam que “Devido ao atual estado de coisas, verdadeiros patriotas americanos podem ser obrigados a recorrer à violência como último recurso para salvar nossa nação”. Fóruns online contribuíram para a radicalização de terroristas domésticos, como Dylan Telhado e Payton Gendron.

Não é todo usuário da internet que irá cometer atos de violência, mas a animosidade que ela incita leva as pessoas nesse sentido e cria refúgios onde fantasias violentas podem se desenvolver.

5. Bondade e Fidelidade Deformadas: Ambiguidade Moral
O oposto de bondade e fidelidade pode ser definido como “ambiguidade moral”. Se a bondade envolve conhecer e amar o que é verdadeiro e bom, então a fidelidade é a ação em conformidade com o que é verdadeiro e bom.

​​Muitas das categorias anteriores se entrelaçam com esta seção. A ira, a hostilidade e a violência voltadas contra nossos semelhantes estão longe de serem boas e leais. A desconexão moral é descrita como “uma tendência cognitiva que permite que as pessoas reinterpretem suas ações imorais” e tem sido relacionada ao uso compulsivo da internet e a vídeo games violentos. O anonimato na internet e a sensação de ausência de consequências geram um ambiente que promove a desinibição e a agressão digital.

A tecnologia digital não muda automaticamente nossa adesão a padrões morais de bondade e lealdade, da mesma maneira que outros frutos ruins em nossas vidas. No entanto, ela possibilita o crescimento de desejos e aspirações ilícitas no coração.

6. Domínio Próprio Deformado: Vício
Deus não age de forma repentina ou irracional, expressa algo do qual se arrepende posteriormente, ou realiza qualquer ação que esteja fora de seu controle. Os humanos espelham essa qualidade de Deus demonstrando domínio próprio. Infelizmente, a tecnologia digital pode tornar-se viciante, onde as pessoas não conseguem limitar o seu uso. O uso exagerado da tecnologia faz com que percamos controle e passa a nos controlar.

A realidade sombria é que viciar é intencional e não acidental: as empresas de tecnologia “estimulam o vício comportamental [pelo] uso intermitente de reforço positivo e nosso impulso por aprovação social” e criam recursos viciantes para aprisionar as pessoas aos seus dispositivos para maximizar seus lucros. Uma vez estabelecido o vício, é difícil libertar-se. A abstinência pode provocar sintomas “similares aos vistos após a interrupção do uso de muitas substâncias depressoras, como álcool, maconha e drogas à base de opiáceos”.

Uma Pergunta Que Necessitamos Fazer
Estudos mostraram que a tecnologia digital tem poder para deformar a mente humana. Embora a tecnologia tenha esse poder, ela não é a única força atuante. Juntamente com os efeitos psicológicos do uso prolongado de tecnologia digital nossos desejos caídos podem causar com que nos voltemos para nós mesmos, da mesma maneira que o desejo de Adão e Eva pelo fruto proibido.

O questionamento é se devemos excluir totalmente a tecnologia digital, e se não, como poderíamos impor limites para assegurar que controlamos nossas ferramentas—e não ao contrário.

Traduzido por Claudio Lopes Chagas

Josh Rothschild, pastor e estudante de doutorado no Southern Baptist Theological Seminary, atua na Sojourn Church Midtown (Louisville, Kentucky, EUA) como líder de formação espiritual.

fonte https://coalizaopeloevangelho.org/article/6-maneiras-em-que-a-tecnologia-digital-nos-deforma/

 


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