No dia 6 de novembro de 2010, twittei o mais lamentável tweet de minha carreira medíocre de mídia social. Antecipando a temporada de férias, decidi opinar sobre a hospitalidade. O tweet era uma mistura perfeita de memória seletiva e auto justificativa, projetado para amontoar condenação sobre as cabeças dos meus seguidores, sob o pretexto de oferecer conselhos sábios. Foi um “selfie” verbal tirado do meu melhor ângulo, posicionado para me deixar muito, muito bem. Vamos dar uma olhada nele, que tal?
“Mães, manter uma casa organizada te libera para exercer a hospitalidade à vontade. Tanto a organização quanto a hospitalidade são exemplos para seus filhos “.
Observem o duplo impacto: se sua casa não estiver organizada a cada dia, você não oferecerá hospitalidade a outros e será um mau exemplo para seus filhos. Mães de todas as partes, sejam encorajadas!
Mesmo após vários anos, ainda me envergonho quando me lembro daquele tweet, principalmente porque várias vezes desde então, deixei de viver conforme aquele padrão. Pressuponho que minha casa estivesse impecável no dia 6 de Novembro de 2010, mas raramente tem estado assim desde então. Mesmo enquanto escrevo, olho para uma paisagem desordenada de roupas espalhadas, livros escolares, rodapés empoeirados e pintura lascada. Naquele tweet esqueci de mencionar como era minha casa quando meus filhos eram pequenos, como eu escondia a tralha na secadora de roupas quando os convidados chegavam, o quão duro eu achava apenas colocar o jantar na mesa para a minha própria família, quanto mais para outras famiílias . Portanto lamento ter proposto para as mães um padrão que eu mesma não conseguia alcançar
Mas o mais importante, lamento ter enviado aquele tweet porque percebi que o padrão proposto é falho. Ele revela minha própria falta de compreensão sobre a natureza e a finalidade da hospitalidade. No meu desejo cheio de auto justificativa de oferecer conselhos, confundi a hospitalidade com seu irmão gêmeo perverso, “o entretenimento”.
Os dois conceitos não poderiam ser mais diferentes.
Qual é a Diferença?
Entreter envolve a colocação de mesa perfeita após uma busca exaustiva no Pinterest. Escolher um menu que irá impressionar e, em seguida se preocupar com cada estágio de preparação. Requer que cada almofada decorativa esteja no lugar, cada teia de aranha seja erradicada, todas as crianças estejam limpas e arrumadas. Envolve alocar um tempo extra para vestir a roupa perfeita antes do primeiro convidado tocar a campainha da porta sazonalmente decorada. E se algum elemento do plano falhar, o “entreter” entende que toda a noite foi contaminada. O entretenimento concentra a atenção sobre nós mesmas.
A hospitalidade envolve a colocação de uma mesa que faz com que todos se sintam confortáveis. Escolher um menu que permita mais tempo com os hóspedes ao invés de ficar presa ao fogão. Arrumar a casa para deixar as coisas agradáveis, mas não sente a necessidade de esconder evidências da vida cotidiana. Às vezes envolve sentar-se para jantar com um pouco de farinha em seu cabelo. Permite que o encontro seja moldado pela qualidade da conversa, e não pela culinária. A hospitalidade demonstra interesse nos pensamentos, sentimentos, atividades e preferências de seus convidados. É competente em fazer perguntas e ouvir atentamente as respostas. A hospitalidade concentra a atenção nos outros.
O entreter está sempre pensando no próximo prato. Com a hospitalidade, o pão de queijo pode queimar porque estávamos prestando atenção numa história.
O entreter é obcecado pelo que deu errado. A hospitalidade saboreia o que foi compartilhado.
O entreter, exausto, diz “Não foi nada, sério!” A hospitalidade pensa que não foi nada. Sério.
O entreter procura impressionar. A hospitalidade procura abençoar.
As duas práticas podem parecer tão semelhantes. Duas pessoas podem colocar a mesma mesa bonita e servir a mesma refeição gourmet, uma com a intenção de impressionar, a outra com a intenção de abençoar. Como podemos saber a diferença? Apenas a segunda convidaria os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos para puxar uma cadeira e saborear o que está nas nossos louças (Lucas 14.12-14). Nossas intenções não são reveladas apenas na forma como colocamos nossas mesas, mas em quem convidamos para se juntar a nós no banquete. O entreter convida aqueles de quem gosta. A hospitalidade aceita todos que vierem.
Por Que Ser Hospitaleiro?
A hospitalidade tem a ver com muitas coisas, mas não com manter uma casa perpetuamente organizada. Após meu tweet deplorável, tentei humildemente recomeçar tudo de novo.
Casa em ordem ou não, a hospitalidade escancara as portas. Ela se oferece a si mesma sem esperar nada em troca. Não mantém nenhum registro de seu serviço, nenhuma conta do seu custo, não anseia por agradecimentos. É nada menos do que a oferta alegre e habitual daqueles que se lembram de uma mesa graciosa posta diante deles, na presença de seus inimigos (Sl. 23.5), daqueles que anseiam por uma mesa gloriosa ainda por vir (Ap 19.6-9).
É uma maneira pela qual podemos imitar nosso Deus infinitamente hospitaleiro.
Portanto, após mais de cinco anos, aqui está meu conselho para mim mesma: abra mão do prazer vazio de entreter. Em vez disso, sirva um grandioso banquete de hospitalidade, da mesma maneira como foi servido a você.
Nota dos editores: Adquira o novo estudo da Bíblia de Jen Wilkin “1 Peter: A Living Hope in Christ” [1 Pedro: Uma Viva Esperança em Cristo] (LifeWay e TGC).
Traduzido por Suzana L. Braga
fonte https://coalizaopeloevangelho.org/article/por-que-a-hospitalidade-e-melhor-que-o-entretenimento/
