Tecnologia, automação e inteligência artificial: o que pastores e líderes tem a ver com isso?

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“Estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos.” A afirmação é de Klaus Schwab, autor do livro “A Quarta Revolução Industrial”, publicado em 2016. Ele diz que essa revolução causa uma transformação diferente de qualquer coisa que o ser humano já experimentou.

A quarta revolução industrial, ou Indústria 4.0, é uma mudança de paradigma, não apenas mais uma etapa do desenvolvimento tecnológico, pois tende a ser totalmente automatizada a partir de sistemas que combinam máquinas com processos digitais, como nanotecnologia, neurotecnologia, biotecnologia, robótica, inteligência artificial, armazenamento de energia, internet das coisas e inteligência artificial. [1]

Em artigo publicado no site da Associação Brasileira de Cristãos na Ciência (ABC2), Jéssica Fredricks afirma que a tecnologia muda a maneira como percebemos nossa fé. Entretanto, a preocupação de maior parte dos teólogos consiste em compreender como a teologia é influenciada pela história, cultura e política, mas falta nesta reflexão um olhar sobre a influência de nossas tecnologias. Fredrick argumenta:

“Os artefatos físicos que nos cercam criam ambientes que mudam a maneira como percebemos coisas como fé, conhecimento, comunicação, nós mesmos, uns aos outros e o próprio Deus. Quanto mais rápido nossas tecnologias se desenvolvem, mais claro fica que os humanos são profundamente modificados pelos ambientes criados por nossas tecnologias e, por extensão, essas tecnologias também modificam as teologias que construímos. Nossas tecnologias têm grande influência sobre como percebemos Deus.” [2]

Diante de tudo isso, pastores e líderes têm diante de si a urgente necessidade de pensar e se prepararem para as mudanças que essa revolução trará. Em 2019, na consulta “Os robôs estão vindo: nós, eles e Deus”, Nigel Cameron afirmou que é preciso procurar resistir às posições binárias de ser a favor/contra as novas tecnologias e, em vez disso, a igreja deve ocupar “o meio termo” da conversa, onde a sabedoria pode ser encontrada e uma boa política pode ser feita. Os preletores da consulta enfatizaram a falta de engajamento da igreja nestes assuntos, que é considerado o maior desafio desde Darwin, e incentivaram o pensamento preparatório dos líderes para garantir que os cristãos possam responder adequadamente a estes desafios e ajudar a igreja local a ser luz na sociedade.

Competências para o futuro
O Invisible College, uma startup de formação teológica cristã, desenvolveu a pesquisa As Competências Pro Futuro, que busca mapear as habilidades que podem auxiliar a respondermos aos desafios contemporâneos. O estudo consultou diferentes autores, entre fontes acadêmicas, mercadológicas, lideranças corporativas e educacionais, e classificou as competências em categorias. Tais competências não ignoram ou desconsideram as virtudes cristãs fundamentais, sobre as quais a Bíblia permanece sendo o guia orientador por excelência. As competências listadas na pesquisa podem enriquecer sobremaneira o ministério de pastores e líderes que buscarem desenvolver tais capacidades. Vale a pena conferir.

1 – Flexibilidade
A pesquisa explica que vivemos num contexto cada vez mais complexo, com maior acesso à informação, com mais velocidade e mais conexão. Diante disso, é cada vez mais necessária a flexibilidade cognitiva para compreender, colocar em diálogo diferentes áreas do saber e se adaptar às mudanças. Citando Bernard Marr, um futurista renomado, influenciador e líder de pensamento na área de negócios e tecnologia, a pesquisa destaca que é fundamental exercitar a capacidade de ver a mudança como uma oportunidade de crescimento e não como um fardo.

Para desenvolver esta capacidade, o líder precisa possuir autoconhecimento, ou seja, uma visão adequada de si mesmo, de suas limitações e das necessidades ao seu redor, para conseguir identificar o que precisa ser melhor desenvolvido para o novo cenário que se desenha com a mudança. O próprio exercício do fazer teológico, parte do ministério de todo pastor e líder, exige a capacidade adaptável, já que a teologia é uma disciplina em constante diálogo com outras áreas do saber.

Por falar em adaptar, líderes e pastores precisam estar atentos a novas leis que podem impactar as igrejas, como é o caso da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que regula a coleta, armazenamento e tratamento de dados. O não cumprimento da Lei pode resultar em multa para o pastor da igreja, inclusive. Clique aqui para baixar um e-book gratuito sobre o assunto.

2 – Pensamento crítico
A facilidade de distribuição de informações nos jogou num mar profundo de narrativas, desafiando a hegemonia da grande imprensa tradicional e colocando em xeque os discursos. Não é à toa que vivemos na era denominada de pós-verdade, marcada profundamente pelas famosas “fake-news” e pela desinformação causada por elas. Neste cenário, é imprescindível desenvolver a capacidade crítica para ler a realidade ao nosso redor.

Carlos Grzybowski destaca que os cristãos são convocados a ter uma mente crítica e “crística” para evitar que as muitas informações os levem a confusões pessoais, radicalismos e, especialmente, atitudes de desamor ao próximo. Grzybowski afirma: “Especialmente àqueles que professam a fé cristã são desafiados a terem a atitude bíblica dos moradores de Bereia, considerados nobres, pois antes de aceitarem qualquer informação como verdadeira, examinavam a cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim (Atos 17.11).”

3 – Criatividade
A capacidade criativa não é exclusividade de artistas. Ela está relacionada com a resolução de um problema ou uma necessidade por meio de uma solução diferente da habitual. Diante de novos desafios ou situações atípicas, a busca por soluções que sejam exequíveis, satisfatórias e sustentáveis são cada vez mais necessárias. A pesquisa coloca como exemplo, a pandemia do Coronavírus, um período muito curto de tempo em que foram impostas mudanças radicais na rotina de todo mundo, demandando uma busca por alternativas para o culto público, no caso das igrejas.

Explorando um pouco mais essa capacidade, vale lembrar que todo trabalho criativo é construído sobre o que veio antes. Neste sentido, nada é totalmente original. Aqui, é preciosa a dica de Austin Kleon: “Dê um Google em tudo. Mesmo. Dê um Google nos seus sonhos, nos seus problemas. Não faça uma pergunta antes de você dar um Google nela. Você vai encontrar a resposta ou vai acabar esbarrando numa pergunta melhor.”

4 – Capacidade sociocultural
Essa capacidade diz respeito ao desafio de entender o ser humano, seu repertório e interações culturais, bem como perceber tendências comportamentais e hábitos. De acordo com a pesquisa, é um pilar imprescindível para a produção teológica e aplicação contextualizada do evangelho. Para isso, são cada vez mais relevantes áreas do saber como a sociologia, a antropologia, a neurociência e a psicologia.

Pastores e líderes devem atentar para o fato de que a pregação é um processo de tradução, ou seja, quem está comunicando precisa traduzir a mensagem bíblica para o contexto e a realidade da sua audiência. Neste sentido, a comunicação eficaz do evangelho exige uma compreensão do outro e do contexto cultural do ouvinte, seja durante um sermão ou uma abordagem evangelística.

5 – Capacidade tecnológica
Essa competência está diretamente relacionada com a alfabetização em novas mídias. No nível mais básico, a capacidade tecnológica diz respeito à compreensão e manuseio dos diferentes recursos e mídias disponíveis. Para ir mais além, a capacidade tecnológica diz respeito à compreensão e uso de novas ferramentas que estarão cada vez mais presentes no nosso cotidiano, tendo um impacto real na economia, nas relações de trabalho e cultura de um modo geral. Embora possa haver certa resistência nesse sentido, este é um cenário que não pode ser evitado.

Sobre a nossa relação com a tecnologia, Bruno Maroni explica que a visão de mundo cristã é útil para entendermos o desenvolvimento tecnológico e contribuir de forma singular para a atividade técnica responsável. “Reconhecer que o mundo foi criado com intencionalidade, propósito e ordem faz toda a diferença para a tecnologia. Por que a tecnologia é possível? Porque vivemos em uma realidade criada. Por isso, inclusive, temos a capacidade de responder (positiva ou negativamente) e dar continuidade à criatividade divina. A narrativa criacional mostra que a criação à imagem de Deus implica no mandato cultural (Gn 1.26; 2.15), a responsabilidade de cuidar, preservar, desenvolver e ampliar os potenciais da criação. A tecnologia é uma atividade cultural, por isso, carregada de significado.”, afirma Maroni.

fonte https://sepal.org.br/tecnologia-automacao-e-inteligencia-artificial-o-que-pastores-e-lideres-tem-a-ver-com-isso/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=tecnologia-automacao-e-inteligencia-artificial-o-que-pastores-e-lideres-tem-a-ver-com-isso


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