Quando Nosso Trabalho É Extremamente Desagradável

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Uma palestra típica sobre a fé e o trabalho geralmente é assim:

“Deus o fez com um trabalho maravilhoso que traz sentido e propósito para sua vida normal. A cada dia, temos a incrível oportunidade de trazer o santo amor de Deus ao mundo a nosso redor pela maneira como fazemos nosso trabalho diário. Estamos respondendo ao mandato para cuidar bem do mundo de Deus e nos moldarmos cada vez mais à semelhança de Cristo”.

E muitas pessoas reviram os olhos e dizem: “É uma boa teoria. Você deveria tentar fazer o meu trabalho”.

Eu definitivamente entendo porque o discurso toma este rumo. Queremos começar com algo encorajador e edificante, não com algo desastroso e entristecedor E queremos manter a Deus, e não a Satanás, no centro — é importante lembrar quem realmente está no controle.

Ao mesmo tempo, necessitamos nos conectar com as suas experiências diárias das pessoas, de conversar com elas sobre o mundo que as cerca e reconhecer seu sofrimento e necessidades.

Quando faço preleções em conferências sobre a fé e o trabalho, frequentemente organizo workshops com títulos como “Quando o trabalho é extremamente desagradável”. E sabe de uma coisa? A sala nunca fica vazia.

Labuta e Frustração
Como pode o trabalho ser extremamente desagradável? De muitas formas, mas devemos começar do princípio. Gênesis 3.17–19 enfatiza duas maneiras principais pelas quais a queda afeta nosso trabalho diário: labuta e frustração.

Labuta não significa esforço. O trabalho físico que exigia esforço já existia antes da queda. Gênesis 2.15 diz que a razão pela qual Deus colocou Adão no jardim, em primeiro lugar, foi para trabalhar e mante-lo, para cultivar e guardar o jardim.

Ao contrário, a labuta significa dor e cansaço — sofrimento físico e fadiga. A testa de Adão vai suar ao trabalhar, disse Deus (Gn 3.19), e nós vivenciamos o mesmo. Ao nos empenharmos no nosso trabalho, sentimos a queda em nossos corpos. Observamos o custo físico nos músculos doloridos dos trabalhadores do campo ou trabalhadores da construção civil, nos pés cansados ​​dos operários, e no peso adicional ou síndrome do túnel do carpo daqueles que ficam sentados digitando nos escritórios.

Tal como a labuta é para o corpo, é a frustração para a alma. Após a queda, o jardim produziu não apenas lavouras e flores, mas também cardos e abrolhos (Gn 3.18). Sentimos esta frustração de duas maneiras. A curto prazo, qualquer tarefa na qual nos envolvemos pode desmoronar ou fracassar — ainda que façamos tudo certo! — E, a longo prazo, mesmo que nosso trabalho seja bem-sucedido, não terá um significado definitivo, se estivermos separados de Deus. O mesmo Salomão, que elogia tanto o trabalho árduo em Provérbios, também testifica em Eclesiastes que, sem Deus, todo o nosso esforço é vaidade — tudo o que construímos desaparecerá tão rápido quanto um vapor.

É por isso que uma das virtudes cristãs mais importantes é a perseverança. É constantemente enfatizado no Novo Testamento — permaneça forte, complete a carreira, não se surpreenda com fogo ardente que surge no meio de vós, alegre-se mesmo em tempos de sofrimento. Perseverando através da dor e da adversidade, desenvolvemos o caráter robusto que Deus deseja que tenhamos. E sabemos que, mesmo quando nossos esforços fracassam, nosso empenho fiel manifesta o santo amor de Deus a um mundo que observa.

Relacionamentos Transtornados
A queda traz labuta e frustração em nosso trabalho diário porque transtorna nossos relacionamentos. Tudo era para ser conectado a tudo de maneira correta, acima de tudo, ser conectado ao seu Criador de maneira correta.

Quando a queda transtornou nosso relacionamento com Deus, ela transtornou também todos os nossos outros relacionamentos, inclusive com a criação física. Fomos feitos para governar a terra sob Deus, mas agora a terra está amaldiçoada (Gn 3.17). Foi isso que primeiro deu origem à labuta e à frustração.

Nossos relacionamentos uns com os outros também são transtornados, resultando em maus-tratos e injustiças no nosso trabalho diário. Assim como Adão e Eva se sentiram envergonhados e se cobriram, porque sabiam que não tinham mais uma intimidade altruísta e genuína, nós também estamos alienados uns dos outros. Trabalhamos em um mundo de desconfiança e de medo.

Até mesmo nosso relacionamento conosco mesmos — nosso senso de identidade e motivação — foi transtornado. Para uns, isto significa ser viciado em trabalho, fazendo do trabalho diário um ídolo e investindo-o de um propósito final. Para outros, significa a preguiça, afastar-se do chamado para nos esforçarmos e cuidarmos bem do mundo que Deus criou — quer isso signifique não trabalhar mesmo ou ser negligente porque consideramos nossas tarefas como sem importância e inferiores.

Contentamento e Esperança
O Evangelho de Cristo, crucificado e ressuscitado, coloca o nosso trabalho em ordem, porque nos devolve o relacionamento correto com o nosso Criador. É claro que ainda sentimos a ruptura de nosso mundo por causa da queda. E ainda lutamos contra o poder do pecado, que se agarra à nossa própria carne.

Mas podemos trabalhar agora com contentamento e coragem. Podemos descansar naquilo que Deus fez, está fazendo e fará. Sabemos que Deus está conosco em nosso trabalho. Sabemos que ele está cuidando de nós, suprindo nossas necessidades diárias. E sabemos que ele está fazendo com que todas as coisas cooperem para o nosso bem — mesmo em meio ao sofrimento (Ro 8.28).

E assim como o contentamento nos fortalece para o trabalho diário, a esperança transforma a maneira como trabalhamos. Às vezes as pessoas reduzem a esperança a crenças intelectuais sobre o futuro, tal como na afirmação da exatidão dos fatos das profecias bíblicas. Mas a esperança é uma virtude prática e tem algo a ver com o presente, além de com o futuro.

A esperança significa alinhar não apenas nossas crenças, mas também nosso comportamento, com a expectativa de que Deus pode e vai cumprir todas as suas promessas. Isto significa que agimos sabendo que Deus realmente é mais forte do que Satanás — que Deus é Deus e Satanás não o é. A esperança aguarda com expectativa a consumação de todas as coisas, porque aquela promessa de vitória final é a base mais importante da nossa expectativa de que Deus está no comando e fará a sua vontade. Mas a esperança também significa que sabemos que Deus é mais forte que Satanás agora e que ele está cumprindo todas as suas promessas.

Deus está realizando seus propósitos hoje, nos purificando e nos fortalecendo como seu povo, e nos apontando para aquele futuro perfeito. Tal como C.S. Lewis escreveu, quanto mais os cristãos aguardam com expectativa o mundo futuro, mais eles se tornam trabalhadores efetivos neste mundo, como agentes do amor e da santidade de Deus.

Andamos — trabalhamos — por fé, não pelo que vemos. Confiamos que Deus está trabalhando em nosso trabalho, mesmo que não necessariamente vejamos ou entendamos o que ele está fazendo. Confiamos que Deus está trabalhando no mundo ao nosso redor, mesmo em meio às trevas e ao mal. O triunfo do amor santo de Deus é a nossa esperança; esta é a nossa esperança para a eternidade e para hoje também.

Traduzido por Vinicius Medeiros

Greg Forster (PhD, Universidade de Yale) é o diretor da Oikonomia Network, professor assistente convidado de fé e cultura na Universidade Internacional Trinity e autor de numerosos livros e artigos.

fonte https://coalizaopeloevangelho.org/article/quando-nosso-trabalho-e-extremamente-desagradavel/

 

 


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