Você sabe o que são relações ambivalentes?

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É fácil reconhecer e se afastar de pessoas tóxicas, aquelas que têm comportamentos claramente desagradáveis e que agem de forma cruel, com violência emocional e até física. Entretanto, os relacionamentos mais prejudiciais são os ambivalentes, que têm aspectos positivos e negativos, pois podem causar confusão e sentimentos contraditórios. Existe até um termo em inglês para descrever esse tipo de relacionamento: “frenemies, uma mistura das palavras “friend” (amigo) e “enemy” (inimigo). Em português, esse tipo de pessoa é chamado popularmente de “amigo da onça”.

Estudos liderados pelos psicólogos norte-americanos Julianne Holt-Lunstad e Bert Uchino revelam que relacionamentos ambivalentes, que despertam amor e ódio, podem ser mais prejudiciais à saúde do que aqueles puramente negativos. Em uma dessas pesquisas, os cientistas mediram a pressão sanguínea de voluntários quando em contato com amigos. Os resultados mostraram que os amigos mais amados produziram pressões sanguíneas baixas e que colegas de trabalho irritantes ou chefes ruins fizeram a pressão subir. A grande surpresa foi descobrir que a pressão atingiu seu ponto mais elevado diante de amigos que despertavam sentimentos contraditórios, em comparação com aqueles que despertavam só sentimentos negativos.

Danilo Suassuna, psicólogo e doutor em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), diz que, no contexto psicológico, a ambivalência pode estar presente nos sentimentos que uma pessoa tem em relação a outra: “por exemplo, pode ser o caso de alguém que ama um membro da família, mas também se ressente daquela pessoa por alguma razão. Essa combinação de amor e ressentimento pode resultar em uma relação ambivalente”. Ele diz que a ambivalência é parte da experiência humana, mas pode ser desafiadora quando interfere na capacidade de tomar decisões ou de manter relacionamentos saudáveis.

Segundo ele, a ambivalência está presente em diferentes tipos de relacionamentos, como na família, em que pode haver amor profundo e cuidado entre os membros, mas também pode haver conflitos, ressentimentos ou decepções que coexistem com sentimentos positivos. Nas relações românticas, Suassuna esclarece que um indivíduo pode amar seu parceiro, mas, ao mesmo tempo, se sentir frustrado ou irritado com certos aspectos da relação e até culpabilizar o parceiro por algo. Entre amigos, a parceria pode coexistir com os conflitos e até com a competição.

Consequências
A incapacidade de identificar e estabelecer limites em relacionamentos ambivalentes pode trazer diversas consequências para a vida de quem lida com eles. “A falta de clareza acarreta uma piora no bem-estar emocional, mental e até mesmo físico da pessoa”, aponta Suassuna. Entre os problemas está a baixa autoestima, pois relacionamentos ambivalentes podem levar a sentimentos de inadequação e questionamento quanto ao próprio valor. A incerteza e as emoções conflitantes presentes em relações ambivalentes também podem causar altos níveis de ansiedade e estresse, além de esgotamento emocional, distúrbios do sono, problemas digestivos e isolamento social, com o afastamento de familiares e amigos.

Como identificar
Identificar relações ambivalentes pode ser um desafio de autoconhecimento, afirma Suassuna. Segundo ele, infelizmente poucas pessoas encaram essa jornada, pois boa parte delas está mais preocupada em construir coisas no aspecto externo. No entanto, conhecer os sinais desse tipo de relação pode evitar sofrimento. Entre as características apontadas por ele estão os sentimentos conflituosos, como sentir amor, carinho e apreço por uma pessoa e, concomitantemente, sentir irritação e frustração. As mudanças rápidas de humor e as reações intensas a pequenos problemas são outros pontos que merecem atenção. “Quando há uma relação ambivalente, pequenos conflitos ou desentendimentos podem desencadear reações emocionais desproporcionais porque tocam em sentimentos subjacentes não resolvidos, ou seja, a pessoa aproveita esse ‘pequeno problema’ para colocar muitas outras coisas para fora”, argumenta. O comportamento passivo- agressivo é outro sinal de que a relação pode não ser saudável: “por exemplo, uma pessoa pode concordar verbalmente com algo, mas, por meio de suas ações, demonstrar o contrário ou sabotar a situação”.

Suassuna aponta que esses exemplos são genéricos e que eles devem ser observados dentro de um contexto. “É importante abordar a ambivalência quando ela afeta negativamente os relacionamentos ou o bem-estar pessoal e buscar ajuda ou orientação profissional quando necessário”, sugere.

O que fazer?
Aprender a lidar com esse tipo de relação ajuda a garantir uma vida com mais bem-estar. “Primeiro de tudo, é importante entender seus próprios sentimentos e necessidades. Faça perguntas como ‘o que eu quero neste relacionamento?’, ‘como este relacionamento está afetando meu bem-estar?’, ‘seria eu, também, ambivalente?’, ‘tenho clareza do que desejo?’”, exemplifica.

 

Em seguida, a pessoa deve exercitar a comunicação e conversar com o outro. “Antes de tomar decisões drásticas, tente conversar com a pessoa. Expresse seus sentimentos e preocupações de forma clara e não acusatória”, recomenda Suassuna.

Outra dica é estabelecer limites claros, não só para o outro, mas para si mesmo também. “Defina o que é aceitável e o que não é nesse momento da relação, seja de trabalho, seja afetiva”, diz.

Ninguém deve aceitar violência ou abusos psicológicos em troca da manutenção de um relacionamento. Por isso, avaliar o nível de toxicidade da relação é fundamental. “Se o relacionamento for abusivo, manipulador ou extremamente tóxico, o mais saudável é se distanciar”, recomenda o psicólogo.

Um relacionamento saudável precisa ser baseado no equilíbrio entre dar e receber. Quando alguém está constantemente dando e não recebe nada em troca, pode ser hora de reavaliar. “Lembre-se de que todos cometem erros e têm momentos em que podem agir de maneira que não seja a ideal. O que é crucial é reconhecer esses momentos, conversar, assumir a responsabilidade de cada um na relação, aprender com cada momento e se esforçar para crescer e melhorar. Nada é unilateral nos relacionamentos. Tudo depende sempre dos dois para acontecer”, finaliza.

fonte https://www.universal.org/noticias/post/voce-sabe-o-que-sao-relacoes-ambivalentes/


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