Ao longo desta semana, fiz uma série de publicações abordando o tema da saúde mental, e no texto de hoje não será diferente. O nosso foco aqui, porém, será os cuidados envolvendo àqueles que são responsáveis por algo que exige extrema responsabilidade, que é o ministério pastoral.
Temos visto nos últimos anos, infelizmente com certa frequência, casos de pastores que tiraram a própria vida. O nosso objetivo não é tratar deste assunto no âmbito bíblico-teológico, pois isso exigiria um artigo muito amplo que não convêm ao propósito deste momento.
Trataremos, sim, dos quesitos puramente humanos na lida com cargas emocionais e o psicológico. Sobre isto, listo abaixo três pontos que considero cruciais para entendermos melhor o motivo pelo qual pastores estão, aparentemente, adoecendo mais emocionalmente, atualmente, do que no passado.
Mudança de geração
Cada geração carrega consigo um conjunto de transformações, podendo ser elas boas ou ruins. Os pastores da geração atual, diferentemente de muitos anos atrás, estão tendo que enfrentar mudanças radicais na forma como a sociedade está lidando com temas sobre família, sexualidade, liberdade e religião.
O que antes, no passado, era ponto passivo, atualmente é ponto de discussão e até de acusações, podendo gerar punição contra os que continuam defendendo os valores bíblicos. Consequentemente, ser um pastor fiel à Palavra de Deus na geração de hoje exige um desgaste emocional muito grande, porque o próprio ambiente cultural, no qual a Igreja está inserida, vem lutando contra ela, não mais de forma setorizada, mas generalizada.
Quando esses desgastes não são tratados, a sensação pode ser de esgotamento, consequentemente frustração e outras que vão se acumulando ao longo do tempo, minando a saúde mental do líder.
Visão deturpada do pastorado
Outro ponto que merece muita atenção diz mais respeito à Igreja, porque é o modo como alguns de nós, cristãos, enxergamos a figura do pastor. Como líder, é natural que a gente espere de tais pessoas um bom exemplo de fé e conduta, pois a própria Bíblia diz que eles devem ser “irrepreensíveis”.
Contudo, a mesma Bíblia também nos mostra que grandes homens de fé, alguns tidos como “segundo o coração de Deus”, a exemplo de Davi, caíram em pecado, cometendo erros absurdos. O que isso nos ensina? Que eles, apesar de conhecedores da Palavra e íntimos do Senhor, estão sujeitos às mesmas tentações que nós.
É importante entendermos isso, porque muitos pastores não conseguem se perdoar quando cometem erros e, como resultado disso, carregam em seu emocional um sentimento de culpa não curado, muitas vezes alimentados por irmãos de fé, na igreja, que não os enxerga como dignos de perdão, mas sim condenação.
Nesses casos, devemos saber diferenciar o pastor apóstata daqueles que seguem a Cristo. O primeiro peca e não reconhece seu erro, segue pecando e leva outros a pecarem igualmente. O segundo, por outro lado, age como Davi, prostrando-se aos pés do Senhor, em arrependimento, indicando a sua restauração.
Com isso, não podemos deixar de enxergar a figura do pastor, também como a de um irmão na fé, sendo este alguém que, apesar da autoridade espiritual sobre nós, abaixo de Cristo, está sujeito a sentir as mesmas dores, temores e sofrimentos que afligem a nossa alma e o corpo.
Solidão ministerial
Por último, esse é um ponto central quando tratamos da saúde mental dos pastores, porque diz respeito a algo que muitos têm relatado, inclusive em pesquisas já realizadas, que é a solidão ministerial. Ou seja, líderes que trilham a jornada sozinhos, sem qualquer apoio externo.
Por solidão ministerial, aqui, me refiro à relação de pastores com outros pastores. E por que relação? Porque não se trata do mero contato institucional, formal, restrito ao ambiente eclesiástico e as suas atividades – o mais comum!
Se trata de uma relação de cuidado mútuo, onde pastores são pastoreados por outros pastores, sendo estes amigos de caminhada dentro e fora da Igreja, como em família, no campo de futebol ou na praça.
Infelizmente, isso ainda é um desafio para muitos, porque a figura do líder, na cabeça de alguns, faz com que eles sintam receio de compartilhar seus problemas, pois percebem isso como uma exposição de “fraquezas”, “dificuldades” ou “fracasso”, o que está errado.
Acontece que, é justamente por isso que o líder pastoral deve caminhar com outros líderes pastorais, porque isso os faz perceber que fraquezas e dificuldades fazem parte do ministério de todos, sendo a solidão uma condição extremamente perigosa para quem tenta liderar uma igreja de forma isolada.
Aos pastores, portanto, cuidem uns dos outros, como diz a Palavra, em “amor fraternal”.
À Igreja, cuidem dos pastores, também, como irmãos em Cristo, reconhecendo a sua autoridade e responsabilidades como líder, mas também a sua condição humana, onde as mesmas necessidades que nos afetam e exigem atenção, também afetam a eles.
Marisa Lobo é psicóloga, especialista em Direitos Humanos, presidente do movimento Pró-Mulher e autora dos livros “Por que as pessoas Mentem?”, “A Ideologia de Gênero na Educação” e “Famílias em Perigo”.
fonte https://guiame.com.br/colunistas/marisa-lobo/setembro-amarelo-precisamos-falar-dos-pastores-que-cuidam-mas-nao-sao-cuidados.html