Jonathan Edwards pensava que o pregador tem uma incumbência sagrada: comunicar o temor da Palavra. Quando a Palavra é pregada desta maneira, os ouvintes frequentemente “tremem diante da palavra de Deus” (Isaías 66.2) — eles a consideram “penetrante, digna de reverência e tremenda”, observou Edwards, e os corações deles se comovem diante dela. “A Palavra em sua poderosa eficácia” — em mortificar o pecado e converter pessoas a Cristo — “corta a alma em pedaços”. Conforme ele escreveu em Blank Bible [“Bíblia em Branco”]:
O relâmpago e o trovão são imagens muito vivas da palavra de Deus… É extremamente rápida, extremamente penetrante, poderosa para romper em pedaços, abrasar, dissolver, e é cheia de majestade.
Para Edwards, os efeitos da Palavra podem ser sentidos por qualquer pessoa sempre que a Palavra for aberta — o que tem ramificações significativas para pregadores e para a pregação. Consideremos os conselhos de Edwards para pregadores e suas implicações em curso hoje.
Suscitar Abalos Divinos
Para alguns, a Palavra traz alegria e satisfação, visto que revela as verdades da salvação. Para outros, aterroriza, uma vez que desnuda seu pecado e a realidade vindoura do julgamento de Deus. Tremer diante da Palavra, pode se originar tanto do medo quanto do doce prazer nas coisas de Deus.
Tremer diante da Palavra não é exibir um simples fanatismo ou emotividade. Para ajudar seus alunos a identificarem a obra de Deus em meio ao fervor do avivamento e distingui-lo das falsificações de Satanás, Edwards encorajava seus ouvintes a fundamentarem a paixão espiritual na verdade bíblica: “Aquele espírito que opera de tal maneira a causar nos homens maior estima às Santas Escrituras, e os constitui mais em sua verdade e divindade, é certamente o Espírito de Deus”. Compreender o texto é essencial. Contudo, mesmo ao estudar as Escrituras e ao preparar sermões, o pregador deve ser confrontado por sua beleza.
A melhor pregação é uma demonstração pública de que o próprio pregador ficou fascinado pela Palavra. Este tipo de pregação cumpre o dever sagrado de comunicar o que é divino sobre a Palavra.
Portanto, na opiniāo de Edwards, os pregadores devem fazer tudo o que puderem para despertar tremores divinos nos santos. Certamente, “consolidar elementos divinos nos corações e nas afeições humanas” é uma das principais razões pelas quais Deus ordenou a pregação da Palavra. Dar aos cristãos bons comentários ou obras teológicas não é o suficiente. Embora estes possam fornecer “uma boa compreensão doutrinária ou especulativa” da Bíblia, ainda assim eles “não têm a mesma propensão para consolidar [isto] nos corações e afeições humanas”.
Para Emocionar os Santos
Embora Edwards cresse que o poder da Palavra pode penetrar todos os seus ouvintes, ele também cria que o cristão é especialmente impactado por ela. A revelação “é um doce tipo de conhecimento” para o crente:
“Ele gosta muito de considerar e contemplar as coisas de… Deus; são para ele os elementos mais agradáveis e belos do mundo. Ele jamais consegue satisfazer seus olhos da vontade de mirá-las, porque ele as vê como verdades incontestáveis e como algo da mais alta excelência”.
Quando a congregação de Edwards passou por um reavivamento em 1735, uma consequência foi que seu amor pela Palavra de Deus aumentou ainda mais. Edwards escreveu:
“Seu apreço pelas Sagradas Escrituras aumentou extraordinariamente… Houve casos de pessoas que, ao verem a Bíblia de relance e acidentalmente, ficaram tão comovidas. . . como um amante ao ver a sua amada”.
As Escrituras são sublimes para o cristão; não é possível ter demasiado. A Palavra escrita, seja ela lida ou ouvida, é uma fonte única pela qual a beleza da salvação por meio de Jesus Cristo aparece continuamente. Edwards testificou frequentemente que a Palavra e o Espírito de fato cativam os nascidos de novo.
“As pessoas após sua conversão falam frequentemente de coisas religiosas como parecendo novas para eles”, observou ele. “Parece-lhes que nunca ouviram uma pregação antes; que a Bíblia é um novo livro: eles encontram novos capítulos, novos salmos, novas histórias, porque eles os enxergam sob uma nova luz”.
Verdadeira Ainda Hoje
Edwards cria que a pregação da Palavra deve traspassar os corações humanos e fazê-los tremer. Para os crentes em Jesus, a Palavra os faz estremecer ao serem despertados para a sua glória vivificante.
Em um tempo e situação distantes dos dele, estas verdades ainda permanecem. As Escrituras ainda permanecem divinas. Ainda traspassam a alma. Ainda continuam “consolidando as coisas divinas nos corações e afeições humanos”.
E não cessou de fascinar os nascidos de novo.
Notas dos editores: Este artigo é uma adaptação do último livro de Douglas Sweeney, Edwards the Exegete: Biblical Interpretation and Anglo-Protestant Culture on the Edge of the Enlightenment [“Edwards, o Exegeta: Interpretação Bíblica e Cultural Anglo-Protestante no Princípio do Iluminismo”] (Oxford University Press, 2016).
Traduzido por Raul Flores
FONTE https://coalizaopeloevangelho.org/article/o-melhor-tipo-de-pregacao/