Populismo: o combustível do fracasso

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Problemas econômicos, sociais e políticos significativos são alguns fatores dentro da sociedade que impulsionam e fortalecem o populismo. Quando uma nação está imersa nesses desafios é inevitável que surja uma frustração comum em toda a população, afinal o desejo de todos é ver o país crescendo e se desenvolvendo. E é também nesse contexto de dificuldade que ganham destaque líderes políticos que se posicionam como “salvadores da pátria”. Apesar de muitas promessas e ideias, a prática deles não condiz com seu discurso.

Em todo o mundo é possível observar exemplos de líderes que agem ou agiram dessa forma. Normalmente, eles conquistam as pessoas por meio de um comportamento, de histórias e de propostas que parecem ter potencial para transformar a realidade, como esta ouvida recentemente: “eu falo de muitas coisas, mas, quando o povo gosta? Quando eu falo nós vamos voltar a reunir a família no domingo e nós vamos ter um churrasquinho e nós vamos comer uma fatia de picanha com a gordurinha passada na farinha e tomar uma cerveja gelada, ‘bicho’, o povo entra em delírio, porque é isso o que o povo quer”. Mas, tudo fica restrito apenas à teoria, o que impacta negativamente o desenvolvimento do país, do Estado ou da cidade e torna ainda mais difícil resolver os problemas reais.

Essa estratégia populista de conquista da população pode ser considerada recente, explica o cientista político Valdir Pucci : “ela nasceu no século 19 nos Estados Unidos e quase simultaneamente na Rússia para descrever partidos ou movimentos políticos que tinham o objetivo de atender o povo. É daí que surgiram os termos populista ou populismo. Eram movimentos e partidos que se colocavam como defensores dos interesses da população, principalmente do povo mais carente, e que ganharam realmente força a partir da segunda metade do século 20”.

A urbanização foi um dos fatores que fortaleceram esse movimento, assim como o “processo de universalização do voto, ou seja, quando a massa da população foi inserida no processo político de votação, inicialmente para os homens e depois também para as mulheres”, completa Pucci.

A exaltação de um líder

Diferentemente do que muitos possam pensar, o populismo não tem necessariamente uma ideologia. Ele pode figurar tanto no espectro político de direita como no de esquerda, mas tem características bem definidas que precisam ser observadas por todos aqueles que levam a sério seu papel de cidadão consciente.

Inicialmente, o movimento populista gira em torno de uma pessoa, que se coloca como um verdadeiro representante do povo. “É um líder carismático, que veste a ideologia que sente que é a que a população mais quer ouvir e com a qual ela mais se identifica. Ele tenta se vender como uma pessoa que veio de baixo, que cresceu, mas que não perdeu seus valores populares. E, pelo fato de ter mantido seus valores, ele seria o único capaz de representar os interesses dessa massa que busca uma identificação. Além disso, o líder populista busca falar e agir conforme aqueles que ele representa”, diz Pucci.

Outra característica marcante do movimento populista é a falta de ideais. Quando se olha para o liberalismo, o conservadorismo ou mesmo o marxismo, é possível identificar seus objetivos, parâmetros, planos e ideologias. Com relação ao populismo, porém, o que existe é uma grande lacuna que é preenchida com o que estiver em alta no meio do povo. O populista/populismo é uma espécie de camaleão, que se modifica de acordo com o ambiente no momento.

Apesar de não ter um ideal claro, o discurso populista se baseia em melhorar a vida da população, mas seu representante não explica de que forma isso será feito. “Na verdade, o objetivo do populismo é ter um líder populista carismático como representante do povo, aquele que vai supostamente solucionar todos os problemas e lá no poder, se possível, ele também pretende se manter, mas sem ter uma base”.

Rastros do populismo no Brasil

Como já foi mencionado, o populismo já esteve ou está presente em países de todos os continentes. No Brasil, por exemplo, ele teve quase 20 anos de história (de 1945 a 1964), período que ficou conhecido como República Populista, ou seja, duas década em que a população foi manipulada por meio de um líder que falava muito, mas não sabia como colocar em prática suas promessas. Imagine o impacto que isso gerou para todos.

“Um dos grandes líderes populistas dessa época, por exemplo, foi Ademar de Barros (1938-1941), que foi governador de São Paulo. Ele começou sua carreira política mais ligado à esquerda e terminou mais ligado à direita, mas sempre foi um populista. Ele fazia questão de falar errado para se aproximar da população”, lembra Pucci.

Pucci ainda argumenta que alguns estudiosos apontam o ex-presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961), cuja promessa era realizar “50 anos de progresso em cinco”, como populista, mas um dos grandes expoentes do movimento teria sido Getúlio Vargas, que esteve à frente do país de 1930 a 1945 e posteriormente de 1951 a 1954. “Getúlio se vendia como Pai dos Pobres, aquele que salvaria os pobres do Brasil da sua condição de miséria”.

Outro exemplo de líder populista foi Jânio Quadros. “Ele era aquele político que se permitia ser fotografado sem gravata, a tirando ou subindo as mangas da camisa. Conta a lenda que ele pedia para que fosse jogado um pozinho branco sobre os ombros de seu paletó para que falassem que ele tinha caspa e, assim, se aproximar da população”, comenta Pucci.

Quando olhamos os exemplos do passado, eles até parecem absurdos, porém hoje muitos líderes políticos criam um personagem vestido de simplicidade para ficarem mais próximos do povo. Claro, os tempos mudaram, mas muitos ainda caem em promessas rasas e superficiais e na inexistência de um projeto ou um caminho definido para elas. É fácil falar que vai acabar com a pobreza, por exemplo, mas de que forma isso ocorrerá? À custa de quê ou de quem? A grande crítica em torno do populismo é a falta de transparência, de planos concretos e seus resultados frustrantes.

Danos do imediatismo

“O principal impacto de uma agenda populista é a falta de projetos políticos com real interesse de solucionar os problemas do país. Assim, acabamos perdendo, quando há governos populistas, a possibilidade de discutir seriamente o Brasil. Se fica numa discussão de quem vai salvar o povo, como se o povo precisasse necessariamente ser salvo. Se coloca o povo em uma condição de criança que precisa de um pai populista, de um líder populista que vai salvá-lo”, declara Pucci. Vale destacar que o comportamento populista quer resolver o problema sem pensar no amanhã, o que traz uma falsa sensação de segurança que desmorona no primeiro vendaval. Assim, o populismo perde a oportunidade de promover um crescimento sólido do país a longo prazo. “Talvez o povo não precise ser salvo, mas apenas de segurança e de continuidade do processo político”, conclui Pucci.

fonte https://www.universal.org/noticias/post/populismo-o-combustivel-do-fracasso/

 


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