3 Reflexões Sobre o Evangelismo no Ocidente Contemporâneo

Divulgue esta materia em sua rede social

Quando cristãos evangelizam, convocam seus ouvintes a confiarem em Jesus para a salvação. O problema é, quase todas as palavras em “confie em Jesus para a sua salvação” são susceptíveis de serem mal interpretadas pelas pessoas seculares do ocidente atual.

Confiar — É para os ingênuos.

Jesus — Não podemos confirmar suas palavras e, dado o tempo que passou, elas são irrelevantes.

Sua — Se há algo chamado salvação, definitivamente não é para mim. Não ouse me dizer do que eu preciso.

Salvação — Esta vida é tudo que temos, portanto, a ideia de ser “salvo” dela é irrelevante. Além disso, a noção de “salvação” pode encorajar o fundamentalismo religioso.

Onde isso nos coloca? A mensagem de confiar em Cristo para a nossa salvação não é apenas rejeitada hoje em dia: é vilipendiada. Muitos acreditam que nosso evangelismo promove uma ideologia opressiva que explora os vulneráveis, manipula os fracos e privilegia os hipócritas e privilegiados. “A igreja protege e acoberta pedófilos e tiranos que exploram os fiéis vulneráveis, então não me venha falar sobre confiar em seu deus odioso”.

Outras pessoas riem do nosso evangelismo como se fosse semelhante a um apelo para aderir à Igreja do Espaguete Voador (sim, essa religião satírica existe). Do ponto de vista humano, enfrentamos um grande desafio de intolerância e preconceito a ser vencido. Felizmente, confiamos em um Deus que realiza o impossível (Mc 10.27).

Como se isso não fosse suficiente, necessitamos continuar a evangelização dos fiéis. Atualmente, no Ocidente, são raros os novos convertidos que chegam às igrejas pela porta da frente, enquanto um número cada vez maior sai pela porta dos fundos. Ambos os grupos necessitam da mensagem do evangelho.

Uma grande parte do nosso desafio hoje é apresentar o verdadeiro Jesus tanto para aqueles na igreja quanto para aqueles fora dela. Aqui estão três maneiras que, pela graça de Deus, podemos fazer isso.

1. Cultivar um “imaginário social” bíblico.
Um fenômeno atual que contribui tanto para o afastamento dos cristãos da igreja quanto para a resistência dos incrédulos à mensagem cristã é que a cultura moderna nos catequiza a cada dia de forma vigorosa e eficiente, desde o momento em que acordamos até o momento em que vamos dormir.

Esta catequese cultural é transmitida, tanto de maneira subliminar quanto direta, por meio de instituições, entretenimento e do nosso trabalho. Ela é fomentada pelo que é observado, valorizado e recompensado socialmente. Somos moldados para viver no mundo com certas expectativas, esperanças, sonhos e medos específicos.

Se as igrejas, pequenos grupos cristãos e famílias cristãs não proporcionarem uma contra-catequese, nossas crenças, aspirações e existências continuarão essencialmente seculares, mesmo que expressemos verdades bíblicas aos domingos.

Existe uma necessidade urgente de discipular cristãos naquilo que Charles Taylor e outros denominam de “imaginário social”, e de demonstrar e esclarecer aos não crentes como a Bíblia influencia mais do que nossa visão de mundo–mais do que nossas ideias. Influencia também nossos sonhos, afeições e hábitos de maneiras saudáveis, robustas, ricas e sutis em si mesmas. Nossa abordagem variará em diferentes contextos, mas um imaginário social cristão envolverá o desenvolvimento de uma visão de discipulado que cumpra duas tarefas essenciais.

Primeiramente, um imaginário social bíblico ajudará os cristãos a entender como o mundo está nos doutrinando de maneira agressiva e quais tipos de medos, sonhos, suposições e esperanças estamos sendo direcionados a ter. Se os cristãos não têm noção de quão profunda e eficazmente a catequese do mundo nos influencia, podemos fazer muito pouco a respeito. Afinal, a propaganda mais efetiva é fazer as pessoas acreditarem que o status quo não pode ser mudado, mas é simplesmente “como as coisas são”.

Em segundo lugar, cultivar um imaginário social bíblico ajudará os cristãos, em comunidade, a desenvolver hábitos de pensamento, discurso e comportamento contra-catequéticos. Esses hábitos devem ser profundos o suficiente para criar um ritmo e padrão de vida distintos dos do mundo. Eles não podem ser aprendidos apenas em um nível intelectual; é necessário que sejam vividos em comunidade (igreja, grupos de amizade, famílias) de forma regular, repetida e intencional. Se isso não for feito, o mundo estará em primeiro plano e Jesus em segundo plano.

À medida que os cristãos cultivam um imaginário social fundamentado na Bíblia, nos tornamos marcada e positivamente distintos dos não-crentes ao nosso redor, exatamente conforme a expectativa dos autores do Novo Testamento (Mt 5.16; Jo 13.35; 1Pe 2.12; 3.15).

2. Entender o Evangelho tanto como antítese como o cumprimento das aspirações da cultura.
Quando cristãos apresentam Cristo à cultura, geralmente usam um de dois métodos. Alguns usam uma abordagem antagônica, presumindo que tudo o que a cultura defende é errado e que os cristãos devem se opor a ela; tudo o que a cultura valoriza, a igreja deve denegrir. A segunda postura, por vezes adotada em oposição à primeira, usa uma abordagem conciliatória, presumindo que o evangelho é simplesmente o cumprimento das aspirações da cultura. Ambas as abordagens são inadequadas e não levam a uma compreensão autêntica do Evangelho.

Em 1 Coríntios 1, uma passagem esplêndida repleta de visão cultural, Paulo nos revela uma via mais adequada. Ele é enfático ao declarar que o evangelho é o oposto dos valores culturais correntes: “Pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios” (v. 23). Mas ele é igualmente enfático que o evangelho é o cumprimento final desses valores: “Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (v. 25).

Quais são os equivalentes modernos da “sabedoria” e do “poder” que Paulo via tão valorizados nas culturas ao seu redor? Muito tem sido escrito sobre este importante tópico (ver, por exemplo, o livro de Daniel Strange Uma Fé Magnética e Rebecca McLaughlin O Credo Secular ); aqui estão algumas ideias rápidas. Justiça e liberdade são talvez dois dos principais símbolos da modernidade tardia, mas também considere santuário (leia o surpreendente posfácio do livro de Shoshana Zuboff A Era do Capitalismo da Vigilância ) é uma apologética poderosa para a profunda importância psicológica e social do santuário); perdão (as redes sociais jamais perdoam, jamais esquecem); e a prioridade revolucionária de dom e de graça no imaginário social bíblico, sobre o paradigma moderno calculista do mercado, mérito e competição. Em cada uma dessas áreas, a mensagem de Deus traz tanto desafio quanto conforto para almas modernas cansadas.

Este modelo de combinar antítese e cumprimento–ou o que o apologista cultural contemporâneo Daniel Strange chama de “cumprimento subversivo”– é apresentado para nós no que talvez seja a maior obra de teologia pública e engajamento cultural dos últimos 2.000 anos de história da igreja: o livro Cidade de Deus de Agostinho. Sua obra-prima se destaca como um modelo exemplar deste modo Paulino de apresentar o evangelho a uma cultura hostil.

3. Ajudar os cristãos a celebrarem e viverem uma vida moldada pelo evangelho.
Esta postura Paulina diferenciada em relação à cultura contemporânea não é apenas bíblica; é emocionante. Descobrir os ritmos e padrões de um imaginário social distintamente bíblico, sentir o desafio e a doçura de como a Bíblia satisfaz subversivamente os anseios mais profundos da sociedade moderna e ameniza seus medos mais profundos, é repetidamente um convite a maravilhar-se com a “profundidade da riqueza”, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus” (Rm 11.33). A separação entre “louvor” e “evangelismo” torna-se mais tênue. Como observou C. S. Lewis, louvamos aquilo que nos alegra, e se os cristãos usarem seu tempo, recursos e talentos para se deleitarem em Deus dentro dos padrões diários de suas vidas, inevitavelmente compartilharão as virtudes divinas com todos ao seu redor (1Pe 2.9).

As verdades do Cristianismo tocam profundamente as preocupações dos indivíduos da sociedade contemporânea. Tornar os cristãos mais conscientes destas maravilhosas verdades bíblicas e da sua beleza e poder para o evangelismo hoje seria, subordinada à soberania de Deus, uma pequena peça do grande quebra-cabeça para ajudar as pessoas a confiarem em Jesus para a salvação.

Seguir estes três encorajamentos significa que paramos de pregar “Jesus Cristo, e este, crucificado” (1Co 2.2)? De jeito nenhum! Essa mensagem é a base que Paulo usa em sua crítica cultural surpreendentemente incisiva. Mas significa que, tal como Paulo em 1 Coríntios 1, ao pregarmos a cruz louca e fraca, também nos engajamos com os valores dominantes da cultura circundante, mostrando como “a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1Co 1:25).

Traduzido por Claudio Chagas

Chris Watkin, PhD pela Universidade de Cambridge, é pesquisador bolsista do Australian Research Council e Professor Associado de línguas europeias na Monash University em Melbourne, Austrália. É um estudioso de renome internacional no estudo do pensamento europeu moderno e contemporâneo, ateísmo e na relação entre a Bíblia e a filosofia. Suas obras abrangem desde monografias acadêmicas sobre filosofia contemporânea até livros escritos para leitores em geral, tanto cristãos quanto seculares, incluindo o premiado Biblical Critical Theory: How the Bible’s Unfolding Story Makes Sense of Modern Life and Culture[Teoria Crítica Bíblica: Como a História da Bíblia nos Ajuda a Compreender a Vida e a Cultura Moderna]. Você pode segui-lo no Twitter , site acadêmico, ou seu site de recursos cristãos .

fontye https://coalizaopeloevangelho.org/article/3-reflexoes-sobre-o-evangelismo-no-ocidente-contemporaneo/

 


Divulgue esta materia em sua rede social
Anúncios
Anúncios