“Não sei mais o que fazer”, disse à minha esposa. “Não estou lendo a Bíblia. Não estou dedicando tempo à oração. Me sinto um fracasso”. Minha esposa ouviu atentamente, colocou a mão nas minhas costas, olhou nos meus olhos e disse gentilmente: “Caleb, você precisa ir orar”. O pensamento de me aproximar de Deus em meio à minha fraqueza nem tinha me ocorrido.
Quando cristãos falam sobre “vencer o pecado” ou crescer na fé, o tom predominante é muitas vezes o de lutar com esforço humano. Uma pessoa pode dizer “Eu necessito ser mais disciplinado” ou “Eu preciso trabalhar mais. Eu preciso fortalecer os músculos espirituais, criar novos hábitos e mantê-los.”
Isso não é de todo errado. No entanto, a Bíblia nos diz que a santificação não é primordialmente um ato da vontade. Em vez disso, está enraizada em reconhecer nossa fraqueza e depender cada vez mais do poder do Espírito para transformar nossas vidas.
Esforce-se para Depender
Em Filipenses 2, Paulo escreveu: “Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.” (vs. 12–13, ênfases minhas).
Paulo claramente exorta os cristãos a se esforçarem. Isso está relacionado com outras instruções que ele nos deu: andai no Espírito (Gl 5.16), mortifiquem os feitos do corpo (Rm 8.13–14), e prossigam para o alvo (Fp 3.14). O esforço prescrito aqui é o que geralmente associamos à santificação, e com razão. Lutar pela santidade é totalmente bíblico.
Mas o que muitas vezes deixamos de notar são as cláusulas qualificadoras em torno da exortação de Paulo para nos “esforçarmos”. Primeiramente, escreveu que necessitamos participar do processo de santificação com “temor e tremor”. Essas não são palavras que tendemos a associar com progresso na caminhada cristã. Temor e tremor são termos que denotam fraqueza e dependência humana diante de Deus (cf. 1Co 2.3).
Por que o apóstolo se referiu à fraqueza? Porque estava convencido de que reconhecer nossos próprios limites e depender do Espírito é como funciona a santificação. Afinal, é Deus quem realiza a obra de santificação. Essa é a segunda cláusula qualificadora: “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar” (Fp 2.13). Desenvolvemos nossa salvação com temor e humildade, sabendo que não somos fortes o suficiente, mas Deus é.
Sem Super-Heróis Espirituais
À medida que nos esforçamos em Cristo para participar em nossa santificação, nos tornamos “mais fracos” no sentido mundano. Perdemos nosso senso de autonomia e independência; perdemos até mesmo a noção de que temos a capacidade de obedecer a Deus por nossas próprias forças. Mas ganhamos uma fé maior, uma gloriosa dependência do Espírito; e essa é a verdadeira força.
Deus manifestou essa verdade para Paulo quando disse a ele: “A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza”. O apóstolo, portanto, responde alegremente: “me gloriarei nas fraquezas” (2Co 12.9). O crescimento em Cristo não fez de Paulo um super-herói espiritual que realizava tudo a que se propunha. Em vez disso, sua santificação foi um processo pelo qual aprendeu a ser “fraco em [Cristo]”, de modo que o poder de Cristo fosse ampliado (13.4).
O que aconteceria se a igreja de hoje compreendesse firmemente a realidade de que é necessário ser fraco para ser santificado? Primeiro, nosso orgulho espiritual seria esmagado por saber que trilhamos o caminho estreito da santificação todos os dias somente pela abundante graça de Deus. Não podemos nos gloriar de nosso nível de maturidade espiritual, pois tudo é resultado da graça. Em segundo lugar, nossa fé seria abundante.
Fraqueza como um Convite
Nossas falhas e fraquezas muitas vezes nos impedem de nos achegarmos corajosamente perante o trono da graça. Quando deixamos de ler a Bíblia, de passar tempo em oração ou de desenvolver disciplinas espirituais, a culpa pode ser difícil de dissipar. Nossos fracassos levam a mensagens mentais “Esforce-se mais!” No entanto, essa resposta compreensível vai contra a obra santificadora do Espírito, pois coloca o poder da mudança em mãos humanas.
Se, ao invés disso, enxergarmos nossas fraquezas e fracassos como convites a confiar em Deus, ficamos livres para enfrentá-los com uma fé crescente, sabendo que Deus está operando mesmo quando somos pecadores e fracos. Não é como se ele não pudesse tocar no nosso pior. Ele se deleita em fazê-lo, mostrando que sua força é perfeita mesmo em nossa fraqueza.
Cristão, você necessita ser fraco para ser santificado
Traduzido por Vittor Rocha
Caleb Clark é pastor da One Church em Huntington Beach, na California (EUA), onde reside com sua esposa, Faith. Ele também é aluno do Talbot Theological Seminary. Você pode segui-lo no Instagram .
fonte https://coalizaopeloevangelho.org/article/e-necessario-ser-fraco-para-ser-santificado/
