Consciente da tempestade desencadeada pela conferência de imprensa com que reagiu ao relatório da comissão que analisou os abusos de menores, a hierarquia da Igreja Católica iniciou ontem uma operação de controlo de danos, aparentando serem os seus principais pivots o arcebispo de Évora, Francisco Senra Coelho, e o bispo de Angra, Armando Esteves Domingues. Os dois assinaram comunicados anunciando a suspensão de padres suspeitos de abusos: um em Évora e dois nos Açores (um da Ilha Terceira e outro de São Miguel).
Essas notícias surgiram no mesmo dia em que, na comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais, se aprovaram por unanimidade requerimentos do PSD e do Chega convocando o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), bispo José Ornelas, a comissão liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht (que a pedido da CEP investigou o abuso de menores na Igreja) e a ministra da Justiça.
O bispo Ornelas disse que recebeu a convocatória com “satisfação”. “Da minha parte e da parte da Conferência Episcopal Portuguesa, estamos totalmente disponíveis para prestar todos os esclarecimentos necessários na Assembleia da República a propósito das ações que estamos a realizar no âmbito dos abusos sexuais de menores e pessoas vulneráveis”, afirmou.
“Nós desejamos ser parte ativa na resolução desta dramática situação que é transversal a toda a sociedade”, assegurou o presidente da CEP, acrescentando que a audição parlamentar é “um ponto positivo que vai ao encontro de algumas decisões tomadas na última Assembleia Plenária do episcopado português”, realizada na sexta-feira, em Fátima.
Segundo acrescentou, estas decisões já estão a “ter consequências práticas, desde logo na atuação, por parte de algumas dioceses que receberam as listas [de nomes de alegados abusadores] elaboradas com toda a competência por parte da Comissão Independente e do Grupo de Investigação Histórica dos Arquivos Diocesanos e dos Institutos de Vida Consagrada”.
“Todos nos empenhámos (…) para tornar transparente (…) esta investigação, que penso não deixa ninguém indiferente”, afirmou, acrescentando que “as medidas já tomadas e que continuarão nos próximos dias [a ser postas em prática] são sinal de um compromisso sério da Igreja em Portugal e de um total empenho em erradicar os abusos sexuais de crianças e jovens, porque isto é algo não só devastador para as vítimas, mas também completamente contraditório com aquilo que é a Igreja, aquilo que é o seu papel e aquilo que ela pretende fazer”.
Arcebispo contraria CEP
Em Évora, entretanto, o arcebispo Senra Coelho contrariou objetivamente o que a CEP havia dito sobre o não-pagamento de indemnização, dizendo que sim, haverá direito a pagamentos quando houver decisões judiciais nesse sentido.
“Se a Igreja, como instituição, tiver responsabilidades e for chamada a indemnizar, claro que tem que indemnizar. Quanto? É o poder judicial que o diz”, afirmou o prelado alentejano. Sublinhando de seguida: “Se me pergunta se a Igreja tem que apoiar, tem que ajudar a vítima, tem que estar com o sofrimento da vítima, não é Igreja se não fizer.”
fonte https://www.dn.pt/sociedade/abuso-de-menores-hierarquia-da-igreja-inicia-operacao-de-controlo-de-danos-15968907.html