Eu sou uma chorona. Após um longo dia, ver algo triste no noticiário ou mesmo só observar meu filho tentar de verdade fazer amizade com outra criança, pode fazer as lágrimas aflorarem. Eu choro até durante documentários sobre a natureza. (Seria a música!) Mas geralmente não me sinto à vontade para chorar na frente dos outros, e muitas vezes tenho percebido que amigos pedem desculpas quando brotam as lágrimas.
Por que temos vergonha de chorar? Como cristãos, como devemos responder a isto? Quando devemos chorar? E o que Deus diz sobre as nossas lágrimas?
As lágrimas Revelam Fraqueza
Em nossa cultura ocidental, muitas vezes consideramos o choro vergonhoso e algo a ser evitado. “Garotas grandes não choram”, muitas de nós ouvimos. Eu cresci sentindo vergonha das minhas lágrimas e me perguntando o que havia de errado comigo. Ficava preocupada que os outros me achariam fraca e inadequada.
Muitas vezes o nosso problema com o choro é que ele nos expõe, revelando a outros os nossos sentimentos mais íntimos. Isto nos força a ser vulneráveis e honestos com alguém, e requer humildade ao admitir que somos, de fato, fracos e inadequados.
Mas, como cristãos, não necessitamos encontrar a nossa identidade em estar sempre bem ou em provar que as nossas vidas são ótimas. O evangelho nos libertou disso. O nosso valor e justiça foram aperfeiçoados em Cristo, que promete nos usar em nossa fraqueza. A nossa própria salvação depende de confessar a nossa fraqueza e impotência para que possamos receber o perdão e a salvação.
As lágrimas podem expor nossa fraqueza. Mas admitir a fraqueza é exatamente o que necessitamos fazer. Paulo diz que podemos até nos orgulhar de nossa fraqueza “para que sobre [nós] repouse o poder de Cristo” (2 Co 12.9). Como é maravilhoso (e contra-intuitivo) que a força de Cristo possa ser demonstrada através da fraqueza das nossas lágrimas.
As lágrimas São uma Admissão de Quebrantamento
Talvez outra razão pela qual a nossa cultura seja tão desconfortável com o choro é que ele aponta para como o mundo está danificado. As pessoas muitas vezes gostam de acreditar que a vida é boa, que não há razão para chorar. As mídias sociais apresentam mantras e memes que nos dizem para sempre procurarmos o lado positivo.
Mas a verdade é que os relacionamentos se desfazem, as pessoas adoecem, se machucam e até mesmo morrem. Sofremos decepção, rejeição e perdas de vários tipos. É claro que as lágrimas virāo.
Como filhos de Deus, não precisamos ter medo de admitir que este mundo está cheio de sofrimento e tristeza, pois isto não ameaça o nosso propósito ou valor. Podemos olhar nos olhos do sofrimento e chorar, sabendo que a redenção e a restauração virão. Ao discutir a morte de cristãos, Paulo nos assegura que nós não nos entristecemos “como os demais, que não têm esperança. Pois, cremos que Jesus morreu e ressuscitou” (1Ts 4.13-14).
Ao contrário daqueles que não conhecem a Cristo, temos uma esperança real por causa da ressurreição. Não temos que fingir que a vida aqui é sempre boa, pois sabemos que eventualmente ela será. O Senhor prometeu que, um dia, enxugará toda lágrima de nossos olhos e não haverá mais morte, luto, choro nem dor (Ap 21.4-5).
Nas Lágrimas Somos Modelados a Cristo
Jesus certamente chorou. Não porque ele era pecaminosamente fraco, mas por ser humano. Suas lágrimas são um exemplo profundo para nós. Chegando a Jerusalém em um jumento, ele chorou pela cidade, pela cegueira da rejeição do povo a ele como o Messias (Lucas 19). Quantas vezes choramos pelos perdidos, lembrando da eternidade que eles enfrentarão sem Jesus?
A cena mais famosa de Jesus chorando copiosamente foi junto ao túmulo de Lázaro — um lembrete poderoso de que a morte não era como as coisas deveriam ser. Não devemos maquiar a morte, evitar o assunto ou fingir que ela é natural e benigna. A morte é um inimigo que Jesus veio para derrotar. Ele chorou pela morte e nós também devermos fazê-lo.
Lamentar-se pelo Pecado
Às vezes, também é apropriado chorar por causa do nosso pecado. Afinal, foi o nosso pecado que pregou Jesus na cruz. A Bíblia registra inúmeros casos em que o povo de Deus chorou por causa dos seus pecados. Depois que Davi pecou, ele escreveu: “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado” (Sl 51.17). Depois que Pedro negou conhecer Jesus, ele “chorou amargamente” quando se deu conta do que havia feito (Mt 26.75).
O nosso pecado deveria nos entristecer. Ele nos separa de Deus e leva à morte. Mas louvado seja Deus por não termos que chorar para sempre, pois “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados” (1 João 1.9). Aleluia!
Chorar em Comunidade
É bom chorar de vez em quando. É até bom chorar na igreja, quando adoramos junto com os nossos irmãos e irmãs e permitimos que a verdade das Escrituras penetre em nossos corações e emoções.
Lembro-me de quase não conseguir ir à igreja duas semanas após a morte do meu pai. Assim que a primeira música começou, as lágrimas brotaram. Uma amiga na fileira da frente simplesmente se virou, colocou os braços ao meu redor e chorou comigo. Alguém se ofereceu para encontrar um espaço tranquilo para conversar, e outra disse que cuidaria dos meus filhos. Ninguém reagiu de forma exagerada às minhas lágrimas ou pareceu desconfortável. Minha amiga ouviu atentamente e não se apressou em “consertar” as minhas lágrimas.
Mais importante, essas amigas se ofereceram para orar por mim. Quando eu estava totalmente incapacitada para levantar a cabeça, eles intercederam por mim. Hebreus 4.16 diz: “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.” Mais do que a nossa comiseração ou disponibilidade para ouvir, podemos nos juntar àqueles que choram até à sala do trono de Deus, nosso Grande Consolador, que é capaz de fazer mais do que poderíamos pedir ou imaginar.
Quando choramos, podemos também consolar uns aos outros com a esperança segura que temos nele, sabendo que, um dia, ele transformará todo o nosso choro em cânticos de alegria.
Traduzido por Mariana Ciocca Alves Passos
Sarah Phillips mora em Oxford, Reino Unido, com o marido e trabalha em casa cuidando dos dois filhos. Ela congrega na Magdalen Road Church em East Oxford e é apaixonada pelo ministério de mulheres. Em seu tempo livre, ela bloga sobre a vida cristã em thoughtsonhowhelovesus.com.
foonte https://coalizaopeloevangelho.org/article/e-bom-chorar-de-vez-em-quando/